2.05.2009

vrum vrum..

Tinha muita coisa na cabeça a precisar de ser rascunhada, repensada, reorganizada e virada do avesso, mas achei que em 3h30 de espera por Lx podia bem passar pela Fábrica no Chiado. Ficava mesmo ali ao lado. Tinha visto na newsletter (que não subscrevi mas recebo, e vejo) falarem de saldos de umas marcas engraçadas, e que uma determinada expo continuaria lá. Sabia que não ia gostar muito de ver. Ou talvez gostasse mesmo e isso é que é chato. Passo a explicar..
Algures em 2002, estava eu no 2º ano de fac, entreguei a cada um do meu grupo de colegas de escola um caderno em branco, de mais ou menos 30 folhas. Que fizessem o que entendessem com ele e mo devolvessem no fim. À falta de melhor nome fui-lhe chamando a Biblioteca de Intimidades. Seriam todos meus, é claro, e fariam parte de um projecto maior que respondia à proposta (anual) do trabalho para Artes Plásticas. Não recebi nem um. Com tanto stress com exames, avaliações e os seus próprios projectos, eu fui percebendo que ia mesmo ser assim. "Acontece, paciência.. " Não me lembro bem como me perdi no projecto, sei que tive internada perto de 1 mês e que na avaliação de final do ano não apresentei metade do que tinha feito, mas também já não queria saber. Só queria vir embora e falar o menos possível (detestava ter de falar com professores). Por essa altura já não sabia o que fazia naquela faculdade, nem o que fazer da minha vida (não que eu hoje saiba mas queimava muito a sensação de estar num lugar estranho, nada a ver com o que eu me sinto).
Saí da fac mas o projecto maior continuou a fazer sentido. A BI era apenas uma parte do projecto, mas eu queria mesmo vê-la. E fiz mais cadernos para distribuir. Desta vez escolhi amigos, ou pessoas que (por qualquer motivo idiota) achei que gostariam de participar. Repeti a dose mais duas vezes, tive uma breve colaboração de um amigo, recebi uma crítica construtiva (que sugeriu deixar-me de cadernos - coisa antiquada - e arranjar um blog), e no total consegui 2 retornos!!
Um caderno da Sara. Sim, a própria! E um outro de um amigo que conheci no pavilhão 28 (que por acaso era 26).
Foi entusiasmante na altura mas durante alguns meses continuei a ver o correio com alguma expectativa.. até já não ter.. expectativa. A modos que fiquei ligeiramente deprimida ao ver uma "infima" parte da enorme aderência ao projecto de cadernos em branco da revista Colours da Beneton.. "o que uma marca não faz.. fdxx.. OO "
Folhei imensos cadernos. Todos muito pessoais. Lindo mesmo. Queria-os todos para mim e quase me sentia no direito (estupido, eu sei) de os trazer comigo.
Cusquei os "saldos" (e é sempre engraçado ver cenas vendidas a 12€ que qualquer um faz com 1€) e vinha já embora, amuada e de orgulho ferido, quando reparei nos cadernos em branco que a própria expo da ColoursNotebooks oferece para aumentar a sua colecção de cadernos (sim, disponíveis a qualquer pessoa, tal como os meus foram). Suponho que qualquer pessoa que desenhe com alguma regularidade deve ter uma empatia/atracção por cadernos em branco. Pelo menos eu tenho. É a melhor prenda que alguém me pode oferecer (com dedicatória, sff) E por um segundo só vi mais um caderno em branco que eu queria para mim.
E foi então que tive uma epifania, o meu estalo mestre zen: sim, sim, que toda a gente é especial, interessante, pura, divina, perfeita e única como um floco de neve, um universo inesgotável, etc, etc.. mas eu própria não me costumo ter assim em tão boa consideração. E é exactamente por isso que nunca, ao longo de todos estes anos, sequer me ocorreu fazer parte do processo. E foi exactamente por isso que estavam lá todos aqueles cadernos em branco a sorrir para mim - ou melhor: a rir da minha cara. "Começa por ti". Não queria acreditar nas voltas que a vida dá. Trouxe um, é claro. A vida é mesmo infinitamente mais surpreendente do que qualquer argumentista poderia imaginar. Sei que capa vai ter um espelho. E fotos da Sara, do Seixal e mais não sei. Nem importa agora.

E a propósito de fábricas ocorrem-me dois pensamentos. Um) que o design não veio democratizar a arte. Parece-me que ainda não. Dois) que os lápis de desenho de durezas do tipo H, (9H é certeiro) são fabricados como propósito único e secreto de furar os olhos a algumas pessoas do meio artístico.

1º e último post sobre arte (uareva).
Voltamos à jardinagem assim que for possível...

em breve. tou sem scaner :/