11.23.2007

el@s

- Elas não precisam de ser educadas, mais precisam da sua atenção e afecto. Sobre respeito aprendem com o nosso exemplo. Ou não.

- Elas não precisam de formação; apenas de orientações que as estimule a descobrir e desenvolver as suas qualidades natas, bem como a usá-las de um modo que lhes seja proveitoso (mais depressa ensinariam quem quem que um dia cresceu desprezando as suas maiores qualidades).

- Elas não precisam de valores morais, nem que lhes ensinem o que é certo ou errado. Mais precisam de criar um sentido crítico próprio que lhes permita escolher os seus caminhos, com a auto confiança e coragem necessárias para assumirem as consequências das suas escolhas de um modo íntegro e responsável - mesmo que o mundo inteiro as condene.
E sentido crítico não nasce se à partida lhes é dito o que é certo ou errado, até porque mais tarde ou mais cedo percebem que nada é tão linear - é isto que gera a frustração de quem sente que perdeu o chão, bem como a revolta e a desconfiança face a quem um dia lhes explicou o mundo de um modo simplista; face a quem um dia, para o proteger e subestimando a sua capacidade cognitiva, lhe mostrou um mundo simples, em vez de estimular o seu poder criador e a sua responsabilidade perante o mundo e os outros.
Quem se respeita sabe respeitar.
Quem se estima sabe estimar.
Quem se ama sabe amar.

- Elas não precisam que lhes indiquem O caminho ou A atitude certa. Podem fazê-lo por respeito e amor aos pais/tutores, professores, mas vão cobrar-lhes todas as frustrações dos caminhos que outros escolheram por si. Ninguém se responsabiliza por escolhas que não são as suas.

- Elas não precisam de pais/tutores/professores perfeitos, não precisam de super-heróis. Antes precisam de pais super-humanos, com todas as caracteristicas que lhes sejam próprias e únicas, e outras que, tal como acontece com eles, que gostariam de mudar. Porque é mais fácil partilhar os nossos medos e receios com quem se senta no mesmo degrau que nós, do quem com quem do alto da escada sempre parece perfeito e nunca falha - e há sempre um dia em que falhamos. Não esqueça que se lhes ensina a lógica da tirania, será com essa mesma perspectiva que elas o verão por cada vez que o virem cair das escadas. Elas precisam de saber que "falhar" e cair fazem parte do percurso, e que o que mais nos pode prejudicar é mesmo não se permitir viver por medo de falhar. Precisam de saber que negarem-se à vida por medo é muito mais nocivo do que cair. Se conseguir, não permita NUNCA que sintam vergonha de uma falha. Se conseguir, não demonstre nunca vergonha de falhar. Tudo o que implicou coragem para enfrentar os nossos medos vale tanto quanto uma vitória.

- Elas não precisam que lhes apontem os suas "más" qualidades, os seus "defeitos" a todo o momento. Se é de facto uma má qualidade, acredite que ninguém mais do que elas irá sofrer as suas consequências. Não queira controlar tudo, tente ser desprendido e mais atento. Tente ver o potencial positivo das suas "más" qualidades. Ajude-as a transformar os seus "menos" num "mais". Uma árvore pode não dar frutos nem ter boa madeira, mas poderá dar uma óptima sombra num dia de calor. Com sorte até está bem localizada. Nada acontece por acaso.

- Mostre pelos velhos o mesmo respeito que gostaria de ter quando um dia estiver no lugar deles. Provavelmente, será o mesmo respeito que terá delas quando tiverem a sua idade.

- Não subestime a sua inteligência nem o seu poder de apreensão. Não há assuntos que não sejam para crianças - o mais que pode haver é linguagem que ainda não dominem. Responda a todas as suas questões. De um modo objectivo e directo. Se necessário partilhe a *sua* postura perante determinada questão e justifique-a. Não faça das suas posições verdades universais, e se tiver coragem, mostre-lhe argumentos de outras perspectivas diferentes das suas de um modo *honesto*, e estimule o seu sentido crítico e a capacidade de se colocar na pele do outro. Provavelmente, ela será muito influenciada pela sua posição perante as coisas, o mundo e os outros - por gostar de si, não porque você esteja certo - mas saberá respeitar o outro se compreender os seus argumentos.
Evite apenas os longos discursos se elas demonstrarem impaciência (e elas têm bem mais paciência do que imagina). Se for você mesmo a não ter tanta paciência, seja honesto, consigo e com ela, e explique-lhe isso, exactamente. Lembre-se que você não é um super-herói e também tem dias maus, como elas têm dias de birra. Elas saberão respeitar os seus dias maus se você lhes lembrar um dia muito chato/mau/triste em que eles só queriam o canto deles.



Claro que eu não sou mãe. E se um dia o fosse é óbvio que nunca nada seria tão claro e simples.