8.29.2007



Passava por ingénua, lenta, descomprometida e insegura, fácil, demasiado passiva e sem sentido crítico.
A verdade é que ela observava o medo que motiva a agressão, e (se) reconhecia por detrás do escudo agressivo do outro, onde (re)via os seus próprios medos. Não gostava de ouvir um grito nem de barulhos excessivos, mas via a fragilidade e a bondade intrínseca (embora não muito evidente) do outro, inseguro de si, hostilizando o outro como a si próprio. Era lenta porque via cada partícula do mundo mais próximo em mutação a cada milésimo de segundo, e assim tudo se movia demasiado rápido, tudo na vida lhe parecia excessivo, agressivo, fascinante e brutal. Sentia as rotações da Terra como um loop de uma montanha russa. Era na verdade descomprometida e vagamente insegura, porque quem encara todos os caminhos e atalhos da vida como possibilidades viáveis sabe que todos eles têm vantagens e desvantagens, mas que em geral todos eles também são fascinantes. E quem vê a beleza de tudo o que existe tem pouco sentido crítico, sim..

* * *

Depois de uma longa discussão, Luang–T’ang rogou a Te–Shan que se fosse deitar. Este embrenhou-se na escuridão da noite, mas em breve voltou á cela do mestre pedindo-lhe que lhe emprestasse uma vela. Lung-Tang estendeu ao seu aluno uma vela acesa, mas, no momento em que Te-Shan se preparava para sair, ele soprou-a. Te-Shan compreendeu imediatamente.

O mestre indica a Te-Shan que não é indispensável ser-se alumiado para ver, que é ilusório procurar compreender (o caminho na noite) com a ajuda da vela (a razão). Te-Shan não tem a mínima necessidade de uma vela para se orientar num mundo idêntico á sua própria natureza indiferenciada.