7.09.2007



São as mais aplicadas e promissoras sacerdotizas do templo mas vão frustrar todas as expectativas. Ninguém algum dia percebeu que elas nunca se aplicam senão com o objectivo único de se servirem a si mesmas. E vão pagar por isso.
Conhecimento e talentos especiais implicam, geralmente e com o tempo, maiores responsabilidades. Nomeadamente a orientação dos mais novos. E para quem como Elinora se serve a si mesma e usa os seus conhecimentos, tanto quanto possível, de acordo com a sua consciência, implica também viver o dilema constante de agir entre o que a sua consciencia lhe diz ser adequado e o que os superiores exigem que cumpra. Foi castigada por não castigar, açoitada por não açoitar, e, estranhamente, fica de esperanças durante uns 40 dias numa das cellas de castigo.
Não passariam 3 luas depois da concepção sem que fugisse do templo juntamento com Thieda, sua alma irmã. E a umas 23 milhas do templo habitaram uma cabana abandonada, junto ao mar. 5 luas depois nasce Enat, uma menina impaciente e cheia de vida, de um olho indigo prescutador, e a quem se adivinhava ser de temperamento forte e aguerrido. Não tinha ainda a menina passado do seu primeiro inverno quanto as jovens conhecem um pescador, por quem Thieda se enamora. Um rapaz de pele queimada, um espirito livre, conhecedor de todos os segredos do mar, e familiar dos pequenos seres que habitam os desertos marítimos. Tinha um olhar meigo e contemplativo. Partilha o leito das duas por 2 unicos invernos. Thieda concebe e dá a luz um menino, que nasce no mesmo dia em que o corpo cansado do seu pai perece numa tempestade muito violenta, e o seu espirito é liberto. Saoire foi o nome que acharam o certo para um filho de um espirito livre como o pai. Era um menino um pouco introvertido, apesar do seu olhar muito franco e aberto, quase telepático. Sim, era muito atento, mas por vezes também muito expressivo e criativo. Coisa que prendia de curiosidade a impaciencia de Etna. Esta, por sua vez, também estimulava
Saoire, que adorava as brincadeiras da irmã, contagiado pela sua energia.
Etna e
Saoire foram quem mais beneficiou do melhor de todo o conhecimento das sacerdotizas da praia, como ficaram conhecidas na aldeia. Cresceram juntos, inseparáveis. Como irmãos, como amantes, como filhos do mesmo mar e do mesmo céu.
E foram também eles quem um dia pegou fogo ao templo antigo, restituindo a liberdade a todos os antigos habitantes de aldeia. Fala-vos Thedeia, irmã mais nova de Thieda, quem um dia ao regressar com toda a irmandade das celebrações campetres viu os antigos deuses reduzidos a cinza. E de repente não tinhamos mais nada para contemplar senão o céu. Seguiu-se o caos, e depois a compreensão. Mas não sem antes chacinar os jovens Etna e Saoire, que desde há uns meses provocavam desacatos e incutiam ideias consideradas perigosas aos mais jovens e idosos, aos mais "fracos de espírito". Mesmo sem querer, apenas por não conhecerem quaisquer das regras, padrões ou hábitos do local, apenas pela sua simples e intensa afectividade frontal, sem medo, face a quem quer que os abordasse na aldeia, suscitavam a curiosidade dos espíritos mais meigos.
Claro que depois veio o
entendimento e depois ainda o arrependimento. Muitos invernos depois, outros habitantes da mesma aldeia erigiram novos templos em honra de Etna e Saoire. E outros tantos em honra das suas mães, Thieda e Elinora. Templos que foram igualmente queimados um dia mais tarde, por outros espíritos livres como Etna e Saoire, cujo único deus que amavam vivia dentro de cada ser vivo que conheciam. Incluindo eles mesmos. Mas parece que muito poucos os compreenderam, e esses poucos tiveram medo de partilhar o seu conhecimento, preferindo manter os habitantes da aldeia sob controlo, previsíveis e simples. No geral continuaram então a queimar templos e deuses, e a erigir mais novos templos e deuses, queimando depois os antigos e erigindo outros tantos depois. ad eternum..