4.19.2007



.. e então, Sílvia..
Ícaro voou cada vez mais alto com as suas asas feitas de cera. Até que chegou um momento em que se sentiu um bocadinho cansado e quis descansar. Então assim que viu uma nuvem muito branca, grande e fofinha, sentou, reclinou e aconchegou-se na alvura feita de névoa. Contemplou o céu imenso, o infinito que ele sempre quis abraçar. Não tinha sequer respirado fundo duas vezes quando ouviu um som de choro, mto baixinho e cansado. Parecia de uma tristeza sem tempo nem espaço. Por momentos acreditou que fosse a própria nuvem que chorava, de tão quieto e triste que o choro lhe soava. Levantou-se e observou o monte alvo onde se tinha encostado. De uma alvura que quase feria os olhos, não fosse uma nuvem + alta tapar um pouco da luz solar.. e era um choro que não se ouviria mais do que a tua própria respiração se, por exemplo, tivesses vindo a correr durante um tempo e parasses ali. Só com atenção o conseguirias ouvir. Ele contornou esse monte e encontrou uma menina recolhida sobre si. E foi então que Ícaro conheceu uma ninfa, que muito baixinho lhe contou a sua história.
Em todo o mundo só um único menino se apercebeu que o eco se tinha apagado. Nem gritando da montanha mais alta conseguirias ouvir a repetição do teu som. Uma trovoada muito muito forte, cheia de energia e cores materializou novamente a sua dor, a sua existência e junto com ela a memoria do seu amor/desejo por Narciso. Desejo que lhe tingiu tudo o que lhe era essência e num dia de tão insuportavel se incendiou a si, sublimando-a no ar. Ícaro condoeu-se da sua dor e falhou-lhe da ansia que o consumia de um modo semelhante. Muito difícil de conter. E foi então que ìcaro e a ninfa Eco descobriram que tinham muito em comum. Tomaram-se por amigos, de um amor e empatia genuína, mesmo sabendo que não se voltariam a ver. Abraçaram-se num adeus de quem se toma por irmão desde há muitos anos, como crianças
condenadas que conhecem os seus destinos desde nascença.
O mundo é que é seco e lento demais para o teu fulgor, meu pequeno Ícaro. O mundo é seco e bruto demais para a tua devoção, minha queria Eco.
Então Ìcaro retomou a sua viagem, e subiu mais e mais.. subiu tudo o que havia para subir. E explodiu de maravilha de encontro ao Sol, satisfazendo por completo a sua ansia voraz de saber e de sentir. A mesma ansia voraz que consome todos aqueles que para quem o Todo sabe pouco.
A ninfa
Eco, consumida pela sua dor que lhe corroia tudo o que era essência, fechou mais uma vez os olhos e sublimou-se no Nada.

Quanto ao menino que notou que a sua montanha não tinha mais eco, perdeu-se entretanto a olhar as montanhas e o verde dos campos, iluminados por uma luz diferente. Tudo ganhou mais luz e cor, notou que o Sol brilhou de um modo mais intenso e quente, por uns momentos. Como uma fogueira que ganha mais força e calor quando é alimentada por um tronco novo. E do alto da montanha, que àquela luz intensa lhe mostrava um mundo novo, rico de explendor, ostentado pelas cores mais vivas que algum dia vira, e o fazia sentir-se maior, mais forte, mesmo da altura do Sol, menino voltou a gritar mais uma vez.. mais uma vez..